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domingo, 21 de janeiro de 2024

Escrito por em 21.1.24 com 0 comentários

Clássicos Disney (XXI)

Recentemente eu atualizei as séries sobre James Bond, Kamen Rider e Doctor Who, então achei que, como o post 1050 se aproximava, seria uma boa atualizar a série sobre os Clássicos Disney também. Vamos lá!

Raya e o Último Dragão
Raya and the Last Dragon
2021

Há 500 anos, Kumandra foi atacada por criaturas sem mente chamadas Druun, que transformam pessoas em pedra com um mero toque. Para detê-los, os dragões se uniram aos humanos, mas também acabaram transformados em pedra, exceto Sisu, que usou todo o seu poder para criar uma joia mágica que baniu os Druun para outra dimensão e reverteu a transformação em pedra dos humanos, mas não a dos dragões, o que fez com que Sisu se tornasse a última de sua espécie e decidisse viver em isolamento. Disputando a posse da joia mágica, os humanos se dividiram em cinco reinos, que, após anos de guerra, alcançaram uma paz tênue. Na época presente, entretanto, uma nova disputa faz com que a joia mágica se quebre em cinco pedaços, cada um ficando em posse de um representante de um dos reinos, mas, com a joia despedaçada, os Druun conseguem retornar, e ameaçam novamente transformar todos em pedra. A Princesa Raya, detentora de um dos fragmentos da joia, decide procurar Sisu para pedir que ela crie uma nova, mas, ao encontrar o dragão, descobre que será necessário que elas encontrem os quatro outros fragmentos da joia original; as duas, então, partem por uma jornada pelos reinos de Kumandra, tentando fazer com que os reinos finalmente entrem em acordo para expulsar mais uma vez os Druun.

Com roteiro de Qui Nguyen e Adele Lim, Raya e o Último Dragão é baseado em várias lendas do Sudeste Asiático, no qual Kumandra foi modelada. A produção do filme consultaria vários experts em cultura da região, para assegurar que houvesse uma representação cultural precisa e evitar estereótipos, e viajaria para Laos, Vietnã, Camboja, Tailândia, Malásia, Cingapura e Indonésia; impressionados com a diversidade de climas e culturas da região, a produção decidiria fazer cada um dos cinco reinos de Kumandra com um clima diferente, que se refletia nas características de sua população. O rio que separa os cinco reinos de Kumandra tem formato de dragão e foi inspirado no Mekong, mas a produção evitaria corresponder cada um dos reinos a um país específico, fazendo uma mistura das culturas da região - da mesma forma, a história do filme não corresponde a uma lenda específica, sendo uma espécie de grande apanhado de lendas e histórias folclóricas locais. A ideia original do filme seria de Bradley Raymond e Helen Kalafatic, que achavam que já estava na hora de a cultura do Sudeste Asiático ser representada em uma grande produção da Disney, e estavam cansados do fato de que, sempre que uma terra de fantasia de um desenho animado tinha inspiração asiática, era baseada na cultura chinesa ou japonesa.

A produção do filme começaria complicada: em outubro de 2018, a Disney anunciaria que Paul Briggs e Dean Wellins, que já haviam trabalhado em Frozen, Zootopia e Moana, fariam sua estreia como diretores, e, em agosto de 2019, Lim e John Ripa seriam anunciados como roteiristas, e Cassie Steele como a dubladora de Raya. Então, em agosto de 2020, a Disney mudaria tudo: Lim seria mantida como roteirista, mas acompanhada por Nguyan, enquanto Don Hall e Carlos López Estrada substituiriam Briggs e Wellins na direção - Wellins e Ripa acabariam creditados como "co-diretores", embora não se saiba com certeza qual tenha sido seu papel na produção. Briggs, Wellins, Ripa, Nguyen, Lim, Hall, Estrada e Kiel Murray seriam todos creditados pela história, "baseada em ideias de" Raymond e Kalafatic, mas apenas Nguyen e Lim receberiam crédito de roteiristas.

Mas a mudança mais surpreendente foi a de Steele por Kelly Marie Tran como a dubladora de Raya; Tran havia feito o teste e ouvido que não era ela que a equipe estava procurando, mas em janeiro de 2020 receberia um "telefonema suspeito" que já a deixaria acreditando que iria substituir Steele. Boatos diriam que a Disney preferiria Tran por ela ser mais famosa, devido à sua participação como Rose Tico em dois filmes de Star Wars, Os Últimos Jedi e A Ascensão Skywalker, mas o motivo oficial divulgado pelo estúdio foi que a voz e entonação de Tran combinavam mais com o que eles queriam para a personagem - aliás, o motivo oficial para toda a mudança de diretores e roteiristas foi que a Disney queria que Raya fosse solitária, sofrendo calada e tendo Sisu como única amiga, mas Briggs, Wellins e Ripa estavam fazendo dela praticamente uma versão feminina do Peter Quill de Guardiões da Galáxia, superconfiante apesar de pouco habilidosa e cheia de tiradas engraçadinhas.

Além de Tran como Raya, a equipe de dubladores conta com Awkwafina - anunciada junto com Steele, mas mantida - como Sisu; Gemma Chan como Namaari, princesa de um dos outros reinos e rival de Raya; Daniel Dae Kim como Benja, pai de Raya; Izaac Wang como o menino Boun, que perdeu sua família para os Druun e decide acompanhar Raya após conhecê-la; Benedict Wong como Tong, guerreiro que também perdeu sua família para os Druun e também decide acompanhar Raya; Sandra Oh como Virana, mãe de Namaari; Thalia Tran como Noi, menina órfã criada por seres mitológicos chamados ongis; e Alan Tudyk como Tuk Tuk, o mascote de Raya. Por causa da pandemia, todos tiveram que dublar suas falas de casa, recebendo apenas as cenas das quais seus personagens participavam; a Disney aproveitaria para fazer uma espécie de jogo e não revelar a cada um deles quem eram os outros dubladores do elenco, mas eles acabariam descobrindo sozinhos, segundo Kim, porque os personagens tinham características físicas semelhantes às dos atores.

As roupas de Raya seriam inspiradas em vestes tradicionais do Sudeste Asiático, enquanto Sisu e os demais dragões do filme seriam inspirados nos naga, criaturas mitológicas ligadas ao elemento água, que podem assumir a forma de uma grande serpente ou de um ser humano - Sisu tem a habilidade de assumir forma humana no filme, com os animadores mantendo algumas características de dragão, como os olhos, para que ela se tornasse facilmente reconhecível. Inicialmente, Sisu se recusaria a ajudar Raya de todas as formas, mas os roteiristas acharam que a história fluiria melhor se ela quisesse ajudar, mas sentisse que não pudesse. Os animadores primeiro desenvolveriam Raya e Sisu separadamente, mas, insatisfeitos com o resultado, decidiriam criar os dois personagens juntos, para que ambos se complementassem visual e tematicamente. Já Namaari seria criada para ser o oposto de Raya, uma personagem quase militar, que demonstrasse força e confiança em cada pose, com vestes retas e angulosas em tons sóbrios.

Mais de 800 animadores trabalhariam no filme, usando os programas Autodesk Maya, Houdini e Nuke. A equipe combinaria animação tradicional com computação gráfica, para criar uma sensação proposital de imperfeição, como se algo em Kumandra estivesse fora do lugar devido à quebra da joia. Um dos feitos mais impressionantes da equipe de animação seria criar uma nova técnica para renderizar roupas, através da qual as roupas são criadas dobrando pedaços enormes de tecido, ao invés de combinando peças em padrões pré-determinados. As diferenças climáticas e culturais entre os reinos de Kumandra, que vão do deserto à floresta tropical, também fariam novos usos de iluminação e combinação de cenários; para garantir mais diversidade à população, sem sacrificar as características culturais do povo de cada reino, seria usada uma nova técnica que recombinava partes de personagens seguindo um modelo criado anteriormente. Para não se perder quando estava criando a população de Kumandra, a equipe teve de inventar um programa que fazia uma espécie de censo, mostrando quantos personagens já estavam prontos em cada reino e quais eram suas características; esse programa também ajudaria a confirmar que todos os personagens de um determinado reino estavam consistentes com as características daquele reino, com todos os seus elementos tendo a aparência correta.

Os movimentos de animais, como os besouros que escalam uns aos outros, cardumes de peixes, e, principalmente, dos dragões, seriam feitos individualmente, ao invés de o grupo como um todo, como é comum em animações desse tipo. Devido à sua ligação com a água, os dragões teriam várias características desse elemento, como o fato de serem fluidos e translúcidos, e de deixarem pegadas quando andam no ar como se seus pés estivessem molhados. Outros truques também seriam usados para acentuar as características dos personagens, sendo usados planos largos, focos profundos e uma paleta de poucas cores para Raya, enquanto para Sisu eram usados planos distantes, foco próximo e uma paleta mais ampla.

A trilha sonora ficaria a cargo de James Newton Howard, um dos maiores compositores de Hollywood, e a principal canção do filme, Lead the Way, seria escrita e interpretada por Jhené Aiko. Essa canção teria uma versão gravada pelo cantor filipino KZ Tandingan, chamada Gabay, incluída na versão filipina do filme - aliás, Raya e o Último Dragão seria o primeiro Clássico Disney a ser dublado em filipino, o que foi muito comemorado pela equipe da Disney Filipinas.

Raya e o Último Dragão estava originalmente previsto para novembro de 2020, mas, por causa da pandemia, estreou em 5 de março de 2021, simultaneamente nos cinemas e no Premier Access, serviço do Disney+ pelo qual os assinantes poderiam pagar 29,99 dólares adicionais para assistir ao filme antes dos demais, que só passaram a ter acesso em 4 de junho, quando o filme seria adicionado ao catálogo do Disney+. Com orçamento de 100 milhões de dólares, rendeu 54,7 milhões nos Estados Unidos e 130,4 milhões quando somado o mundo inteiro, com a Disney atribuindo o aparente fracasso à pandemia, e não à qualidade do filme - de fato, no streaming, o filme seria o segundo mais assistido no planeta na primeira semana de junho, quando ficou disponível a todos os assinantes, perdendo apenas para Lucifer, da Netflix - mesmo quando estava disponível apenas com assinatura adicional, ele seria o quarto mais assistido do período. Surpreendentemente, os dois países nos quais o filme teve a maior bilheteria nos cinemas, depois dos Estados Unidos, foram China e Rússia.

A crítica seria extremamente positiva, elogiando a mistura de emoção, humor e política social do roteiro, e a atuação inspirada de Awkwafina. A animação seria considerada lindíssima, a história, rica, e a ambientação no Sudeste Asiático como uma bem-vinda novidade - alguns críticos do Sudeste Asiático, entretanto, reclamariam que o elenco é majoritariamente composto por descendentes de chineses e coreanos, e diriam que a Disney poderia ter feito um esforço para escalar dubladores verdadeiramente relacionados com a região. A personagem Raya também acabaria criticada por não ter nenhum traço verdadeiramente relacionado à cultura do Sudeste Asiático além de sua aparência física e por parecer deslocada em seu próprio mundo, especialmente se comparada a Moana, que foi considerada uma verdadeira representação de uma garota polinésia. O filme seria indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Animação, mas perderia os dois para o que vamos ver a partir de agora.

Encanto
2021

Em 2016, após concluírem Zootopia, os diretores Jared Bush e Byron Howard procurariam John Lasseter, na época chefe do departamento criativo da Disney Animation, e se diriam interessados em fazer um musical. Lasseter os colocaria em contato com Lin-Manuel Miranda, o principal compositor dos musicais da Disney, e os três começariam a conversar sobre qual seria o tema. Bush e Howard diriam que estavam cansados de fazer filmes nos quais dois personagens diferentes têm de aprender a trabalhar juntos - como Zootopia, o projeto seguinte de Bush, Moana, e o projeto da Disney então em desenvolvimento, Raya e o Último Dragão - e planejavam fazer algo novo; conversando com Miranda, eles descobririam que todos os três têm as chamadas "famílias estendidas" - nome usado nos Estados Unidos para se referir a famílias nas quais muitos parentes, como avós, tios e primos, moram juntos na mesma casa, algo que não é comum por lá, exceto em famílias de origem latina - e pensariam em fazer um musical sobre uma família estendida com poderes mágicos. Sendo as famílias estendidas um conceito relacionado às famílias latinas, Miranda sugeriria um musical latino, alegando que as músicas latinas seriam as mais apropriadas para capturar a complexidade das relações familiares. Bush e Howard também definiriam que o tema central do filme seria "como você vê e é visto pelas demais pessoas de sua família".

Como não eram de origem latina, Bush e Howard - Miranda, apesar de nascido em Nova Iorque, descende de porto-riquenhos e mexicanos - decidiriam conversar com Juan Rendon e Natalie Osma, com quem trabalharam durante o documentário Imaginando Zootopia. Por um acaso, tanto Rendon quanto Osma eram descendentes de colombianos, e frequentemente inseriam nas conversas suas experiências pessoais com a cultura colombiana presente em suas famílias e sua relação com a cultura norte-americana na qual haviam sido criados. Bush, Howard e Miranda gostaram tanto dessas conversas que decidiriam ambientar o filme na Colômbia, contratando Rendon e Osma como consultores, junto com outros estudiosos da cultura colombiana. O trio também conversaria com psicólogos e psicoterapeutas especialistas em terapia familiar, e com vários empregados da Disney Animation, que forneceram pontos de vista valiosos sobre interações familiares.

Encanto - palavra que pode ser usada como sinônimo de "magia" em espanhol, e por isso foi escolhida para o título do filme - é ambientado no passado, em um pequeno vilarejo do interior da Colômbia, fundado e praticamente governado pela Família Madrigal, cujos membros têm poderes mágicos graças a um desejo feito por sua matriarca, Alma Madrigal (a atriz e apresentadora colombiana María Cecilia Botero), forçada a abandonar sua casa e se estabelecer em um vale remoto após uma guerra. For força desse desejo, a vela que alma carregava se tornou a fonte dos poderes da família, jamais se consumindo ou se apagando, e criando uma casa mágica, chamada Casita, onde vive toda a família. Originalmente, a família era composta apenas por Alma, que ficou viúva na guerra, e seus três filhos, Julieta (Angie Cepeda), que tem o poder de curar qualquer enfermidade ou cansaço com sua comida, Pepa (Carolina Gaitán), que tem o poder de controlar o clima, e Bruno (John Leguizamo), que tem o poder de prever o futuro, que o deixa atormentado e faz com que ele decida deixar o vilarejo e ir morar em local ignorado.

Pepa se casaria com Félix (Mauro Castillo), que acha graça em tudo e veio ao mundo para se divertir, e teria três filhos: Dolores (a cantora Adassa), de 21 anos, que tem super audição, sendo capaz de escutar os mínimos sons a grandes distâncias; Camilo (Rhenzy Feliz), de 15, que tem o poder de mudar de forma; e Antonio (Ravi Cabot-Conyers), de apenas 5 anos, que tem o poder de falar com os animais. Já Julieta se casaria com o atrapalhado Agustín (Wilmey Valderrama), e teria três filhas: a lindíssima Isabela (Diane Guerrero), de 21 anos, que tem o poder de fazer plantas e flores nascerem em qualquer lugar; a alta e atlética Luisa (Jessica Darrow), de 19 anos, que tem superforça e nunca fica cansada; e a protagonista do filme, Maribel Madrigal (Stephanie Beatriz), de 15 anos, cujo melhor adjetivo para definir é normal: por alguma razão que ninguém compreende, Maribel não tem nenhum poder, e alguns da família acham que nunca terá. Também merecem ser citados Mariano Guzmán (o cantor colombiano Maluma), vizinho dos Madrigal e noivo de Isabela; a mãe de Mariano, chamada apenas de Señora Guzman (Rose Portillo); e Osvaldo (Juan Castano), vendedor de porta em porta que leva suas mercadorias em uma carroça. O onipresente Alan Tudyk também está no filme, no papel do tucano Pico.

Apesar de não ter poderes, Maribel não é revoltada, aceitando seu papel na família e aguardando ansiosamente o dia em que finalmente os terá. Quando o filme começa, porém, há algo de errado com a magia da família, que parece estar falhando ou saindo do controle, colocando até mesmo a integridade da Casita em risco - e os moradores do vilarejo, mais do que acostumados a depender da magia dos Madrigal para tudo, se desesperam ao pensar como será a vida sem ela. Para tentar descobrir como salvar a magia da família antes que seja tarde demais, Maribel decide tentar encontrar seu tio Bruno, e parte rumo a uma grande aventura.

Em 2018, Bush, Howard, Miranda, Rendon e Osma viajariam para a Colômbia, onde conversariam com arquitetos, chefs de cozinha e artesãos, para criar uma ambientação realística para o filme. Apesar de terem visitado cidades grandes como Bogotá e Cartagena, eles se sentiriam mais inspirados pelas pequenas cidades de Salento e Barichara, e decidiriam ambientar o filme em uma pequena cidade do interior. Bush também notaria que o terreno montanhoso da Colômbia fazia com que algumas cidades pequenas se desenvolvessem isoladas, ganhando "uma personalidade própria", e decidiria usar isso no filme. A guia Alejandra Espinosa Uribe, que acompanharia o quinteto, também acabaria contratada como consultora após dizer que o interior da Colômbia está repleto de locais permeados por magia, nos quais a população coexiste com ela sem questionar sua existência, o que Bush e Howard acharam que era perfeito para a história do filme; Uribe também acabaria servindo de modelo para Maribel Madrigal, que compartilhava com ela os cabelos encaracolados, os óculos de armações grandes e vários gestos que ela usava ao contar suas histórias.

Também é interessante dizer que a época na qual o filme é ambientado foi deixada intencionalmente vaga; inicialmente, Bush e Howard queriam fazê-lo na época atual, depois mudaram de ideia para a década de 1950, e, após visitar a Colômbia, decidiriam ambientá-lo no início do século XX, mas com elementos folclóricos e costumes que poderiam ser bem mais antigos. A mudança também serviria a um propósito no roteiro: entre outubro de 1899 e novembro de 1902, a Colômbia sofreria com a Guerra dos Mil Dias, durante a qual populações de cidades inteiras tiveram de fugir e se estabelecer em outros lugares, o que dava o motivo perfeito para a família Madrigal fundar uma nova cidade.

A Disney a princípio torceria o nariz para uma família tão grande, e Miranda chegaria a ouvir que era impossível fazer um filme com uma dúzia de protagonistas; ele escreveria o número inicial, que apresenta toda a família, especificamente para convencer os executivos da Disney de que era possível, e ele e os diretores se comprometeram a dar um arco de história para cada personagem, para que o filme não fosse uma aventura de Maribel com seus parentes como coadjuvantes. Bush planejava escrever o roteiro ele mesmo, mas, conforme a história ficava mais complexa, ele sentiu que precisava de alguém especializado em realismo fantástico, e chamou Charise Castro Smith, que, além disso, foi essencial para uma construção verossímil de Mirabel, que baseou em suas próprias experiências como uma adolescente latina numa família estendida. Como é comum nas mais recentes produções Disney, várias pessoas contribuiriam com ideias, e, apesar de apenas Bush e Smith serem creditados como roteiristas, a história seria creditada a Bush, Howard, Miranda, Smith, Jason Hand e Nancy Kruse.

A equipe de animação seria liderada por Renato dos Anjos e Kira Lehtomaki, que considerariam Encanto o filme mais difícil de suas carreiras, por terem que desenvolver completamente uma dúzia de personagens - em um filme normal, um máximo de três são completamente desenvolvidos, com os demais sendo feitos sob medida apenas para as cenas nos quais vão aparecer. Maribel foi considerada especialmente complexa, pois tinha de parecer ao mesmo tempo capaz e imperfeita, mas sem passar a impressão de ser desastrada. Coreógrafos colombianos e caribenhos seriam contratados para dar mais realismo aos números musicais, liderados por Jamal Sims, que decidiria usar um estilo musical diferente como característica de cada personagem, para refletir suas personalidades únicas. Um botânico colombiano, Felipe Zapata, também seria contratado, para aconselhar sobre quais plantas Isabela teria o poder de criar - pois só haveria sentido se ela criasse plantas que crescem naturalmente na região - e especialistas em moda colombiana seriam consultados para a criação das roupas leves, esvoaçantes e coloridas usadas pela família.

A ideia da Disney era enviar uma equipe de cerca de 50 animadores para trabalhar na Colômbia em março de 2020, mas esse plano teve de ser suspenso por causa da pandemia; a equipe de animação, composta por cerca de 800 pessoas, 108 delas animadores, acabaria tendo de trabalhar de casa, sendo orientados online pela equipe de consultores, em especial Uribe, que faria um tour em tempo real pela Colômbia por videoconferência através de seu celular, e a atriz Diane Guerrero, que pediria para que seus parentes na Colômbia enviassem fotos de suas refeições diárias.

Encanto teria duas pré-estreias, uma em Hollywood, em 3 de novembro de 2021, e uma em Bogotá vinte dias depois, antes de ser lançado oficialmente em 24 de novembro de 2021 - data para o qual estava previsto desde o início, sem necessidade de adiamento causado pela pandemia. O filme ficaria durante 30 dias exclusivamente em cartaz nos cinemas, estreando diretamente no catálogo do Disney+, sem Premier Access, em 24 de dezembro. Em 16 de fevereiro de 2022, devido ao grande sucesso no Disney+ e na cerimônia do Oscar, a Disney decidiria relançá-lo nos cinemas, onde ficaria em cartaz por mais 30 dias.

Encanto derrapou nas bilheterias - com orçamento não divulgado, mas estimado entre 120 e 150 milhões de dólares, renderia quase 100 milhões nos Estados Unidos e cerca de 256 milhões no mundo inteiro, sendo que a Disney calculava que o rendimento mundial deveria ser de 300 milhões para ele se pagar - mas acabaria sendo considerado um sucesso de público pela Disney, já que seria o segundo filme de animação mais assistido de 2021, atrás apenas de Sing 2, e o filme de animação mais assistido do mês de dezembro no streaming, mesmo faltando apenas uma semana para acabar o mês quando ele estreou. O álbum de sua trilha sonora alcançaria o topo da parada de mais vendidos, e a canção We Don't Talk About Bruno chegaria ao topo do Hot 100 da Billboard, o que faria de Encanto a primeira produção Disney a ter um álbum e uma música no topo das paradas simultaneamente.

A crítica aclamaria o filme, elogiando principalmente o humor do roteiro, a qualidade das canções e a beleza da animação; alguns críticos considerariam que o filme era um marco para a retratação da comunidade latina nos cinemas comparável a Amor, Sublime Amor. Encanto também seria elogiado por mostrar especificamente a cultura colombiana, e não um apanhado de culturas latinas como era comum em produções norte-americanas. O filme ganharia três Grammys (Melhor Trilha Sonora Compilada para Uma Mídia Visual, Melhor Trilha Sonora Instrumental para uma Mídia Visual, e Melhor Canção Escrita para uma Mídia Visual, por We Don't Talk About Bruno) e seria indicado a três Oscars e três Globos de Ouro, nas exatas mesmas categorias: Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Canção Original (por Dos Oruguitas) e Melhor Filme de Animação - ganhando esse último nos dois prêmios.

Em janeiro de 2022, Bush e Smith se diriam interessados em transformar Encanto em uma série produzida para o Disney+, seja centrada em Maribel, seja com cada episódio centrado em um dos personagens - e Miranda se diria especialmente interessado em produzir uma série protagonizada por Dolores. No mês seguinte, o CEO da Disney à época, Bob Chapek, declararia durante uma videoconferência de prestação de contas aos acionistas que Encanto era "a mais nova franquia da Disney", dando a entender que outras produções usando os mesmos personagens estariam sendo avaliadas. Após quase dois anos, porém, nem a série, nem um segundo filme parecem estar próximos de entrar em pré-produção.

Mundo Estranho
Strange World
2022

A terra de Avalônia é cercada por montanhas intransponíveis, que fazem com que seus moradores desconheçam o que há além da cidade, mas bravos exploradores, como a família Clade, se aventuram para tentar encontrar uma passagem pelas montanhas e desbravar as terras além. Um dia, o explorador mais famoso de Avalônia, Jaeger Clade (Dennis Quaid), está liderando uma expedição que conta também com seu filho adolescente, Searcher (Jake Gyllenhaal), e aparentemente encontra um caminho através das montanhas. No caminho, entretanto, Searcher descobre uma nova fonte de energia, uma planta que ele decide chamar de Pando, e ele e o resto da expedição decidem retornar a Avalônia levando a descoberta; Jaeger, irritado, decide seguir em frente, e nunca mais é visto.

Anos se passam, e o Pando se mostra uma descoberta revolucionária, que muda a vida dos cidadãos de Avalônia para sempre, com Searcher se tornando um rico fazendeiro da planta que descobriu, casado com Meridian (Gabrielle Union) e pai do menino Ethan (Jaboukie Young-White). Um dia, entretanto, ele recebe a visita de Callisto Mal (Lucy Liu), presidente de Avalônia e antiga companheira de expedições de seu pai, que o recruta para uma missão: pouca gente sabe, mas as Pando estão perdendo seu poder, o que ameaça toda a estrutura de Avalônia, já completamente dependente da planta; a equipe de Callisto descobre que todas as raízes de todas as Pando são conectadas, e seguem um trajeto comum até o centro do planeta, com a presidente assumindo a missão de segui-las e descobrir a causa do enfraquecimento da planta, e recrutando Searcher por ele ser o maior especialista em Pando. Os demais membros da expedição serão a Capitã Pulk (Adelina Anthony), o piloto Duffle (Alan Tudyk, uma referência a seu personagem na série Firefly), e o nerd Caspian (Karan Soni).

Searcher concorda em acompanhar a expedição, e acidentalmente, acaba levando junto Meridian, Ethan e o cachorro da família, Legend. A família Clade, então, se vê em um mundo desconhecido, povoado por criaturas bizarras, onde fará amizade com uma delas, apelidada de Splat, descobrirá o destino de Jaeger, e se verá diante de uma verdade jamais imaginada sobre as Pando e Avalônia.

Don Hall teria a ideia para Mundo Estranho enquanto trabalhava em Moana, discutindo-a com seu colega Chris Williams - que acabaria não participando do projeto por decidir deixar a Disney para escrever e dirigir a animação da Netflix A Fera do Mar. Hall e Williams teriam como inspiração as revistas pulp do início do século XX, o livro Viagem ao Centro da Terra, de Júlio Verne, e filmes como Caçadores da Arca Perdida, Viagem Fantástica e King Kong; Hall também queria que a história fosse centrada em uma família e tivesse contornos ecológicos. Apesar de terem desenvolvido uma sinopse, Hall e Williams não escreveriam um roteiro nem apresentariam a ideia à Disney, até Hall ser escolhido para co-dirigir Raya e o Último Dragão, quando compartilharia suas ideias com o roteirista Qui Nguyen, que as adoraria e escreveria uma versão preliminar do roteiro, que os dois apresentariam à Disney. Os executivos do estúdio achariam que o filme tinha tudo para ser um sucesso, e dariam a luz verde logo após a conclusão da produção de Raya e o Último Dragão, confirmando Hall como diretor e Nguyen como roteirista.

Para criar o "mundo estranho", a equipe de produção conversaria com paleontólogos, climatologistas, biólogos e até mesmo fazendeiros; a ideia era criar um ambiente considerado totalmente diferente do que identificamos como um planeta, mas ainda assim reconhecível como um. Até mesmo as cores foram pensadas para causar estranheza: enquanto Avalônia é retratada em tons de marrom, cinza e verde, com um clima "agradável e nostálgico", o "mundo estranho" abusa de cores como vermelho, roxo e magenta, como se nada ali fosse natural. O personagem Splat, que se afeiçoa a Ethan, não fala, o que fez com que os animadores tivessem de criar para ele um manual de comunicação não-verbal, semelhante ao do tapete mágico de Aladdin, para que seus gestos e maneirismos fossem sempre adequados a cada situação - e sempre os mesmos, sem parecerem aleatórios. O filme combina animação 3D por computação gráfica, supervisionada por Randy Haycock, com animação tradicional, supervisionada por Eric Goldberg e Mark Henn, todos veteranos da Disney.

Inicialmente, a família Clade não teria um cachorro; o animal de estimação foi ideia do animador Burny Mattinson, outro veterano, que começou a trabalhar na Disney em 1953 - Mundo Estranho seria o último trabalho de Mattinson lançado durante sua vida, já que ele faleceria em 2023, aos 87 anos, mas após ter concluído seu trabalho em Wish: O Poder dos Desejos, o Clássico Disney seguinte. Enquanto fazia seu trabalho, Mattinson comentaria, como quem não quer nada, que uma família de fazendeiros com certeza teria um cachorro, e Hall gostaria da ideia, criando Legend. Legend não tem uma raça específica, lembrando um pouco um Old English Sheepdog, e tem apenas três pernas, toque que Hall achou que contribuiria para sua personalidade - e para mostrar que um cachorro deficiente é tão bom quanto um com todas as patas.

Mundo Estranho traria um casal interracial - Searcher é branco, Meridian é negra - e o primeiro personagem abertamente LGBTQIA+ em um Clássico Disney - Ethan, que é apaixonado por um colega de escola, Diazo (Jonathan Melo). Como de costume, isso foi elogiado pela crítica e considerado um marco pela comunidade, mas causou problemas para a Disney em 20 países, espalhados pelo Oriente Médio, África e Sul Asiático. O filme também não seria lançado na Rússia (segundo a Disney, em protesto contra a invasão da Ucrânia, mas é meio que sabido que não seria de qualquer forma, devido à "lei anti-gay" existente naquele país) na China (sem maiores explicações, embora o mais provável é que também tenha sido pelo personagem LGBTQIA+) e na França (por uma disputa entre a Disney e o sindicato do cinema francês, que não quis aceitar as datas de exibição propostas pelo estúdio; na França, o filme estrearia direto no Disney+).

Mundo Estranho também seria o primeiro filme a trazer a vinheta comemorativa do centésimo aniversário da Disney, com uma nova versão do castelo que é o símbolo do estúdio e um novo arranjo para When You Wish Upon a Star, mesmo o centenário ocorrendo apenas em 2023 e o filme tendo estreado em 23 de novembro de 2022. Curiosamente, Mundo Estranho seria considerado um dos maiores fracassos do cinema de todos os tempos - com orçamento não divulgado, mas estimado entre 135 e 180 milhões de dólares, renderia apenas 73,6 milhões somando o mundo inteiro, 38 milhões nos Estados Unidos - mas se sairia muito bem no streaming, sendo o programa mais assistido do Disney+, onde estreou em 23 de dezembro de 2022, durante 19 dias seguidos, e o oitavo programa mais assistido do mês de dezembro nos Estados Unidos considerando todos os serviços.

A crítica ficaria dividida, elogiando a mensagem ecológica, o visual arrojado do filme a as interpretações do elenco principal, mas criticando a história, considerada "muito básica", e os personagens, considerados mal-desenvolvidos. Mundo Estranho seria o primeiro Clássico Disney desde A Familia do Futuro, de 2007, a não ser indicado a nenhum Oscar, também não sendo indicado a nenhum Globo de Ouro.

Muitos analistas atribuiriam o fracasso do filme nos cinemas a ele ter estreado no mesmo dia que Glass Onion: Um Mistério Knives Out e apenas uma semana depois de Pantera Negra: Wakanda para Sempre, numa época em que a audiência dos cinemas ainda não havia voltado totalmente ao normal após a pandemia; a Disney, oficialmente, culparia a campanha de marketing, considerada muito pobre em relação aos demais Clássicos, e que não deixava claro sobre o que se tratava o filme, o que causou desinteresse do público - sobraria até mesmo para Bob Chapek, que havia decidido lançar três filmes seguidos da Pixar, Soul, Luca e Red: Crescer é uma Fera, diretamente no Disney+, o que, na avaliação dos executivos do estúdio, fez com que a maior parte do público preferisse esperar a estreia de Mundo Estranho no streaming ao invés de ir aos cinemas.

Série Clássicos Disney

•Raya e o Último Dragão
•Encanto
•Mundo Estranho

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domingo, 8 de novembro de 2020

Escrito por em 8.11.20 com 0 comentários

Clássicos Disney (XX)

Enquanto preparava as tabelas para colocar nos meus posts em série, percebi que já foram lançados mais três Clássicos Disney desde que eu escrevi meu último post sobre eles. É hora, portanto, de escrever mais um!

Moana
2016

Moana é a filha do chefe de sua tribo, que vive na ilha de Motonui, na Polinésia. Desde criança, ela sempre teve um grande desejo de singrar o oceano, mesmo sabendo que esse não é o costume de seu povo, que parece satisfeito em ter apenas sua ilha como seus domínios. Um dia, ela não resiste e rouba um barco, partindo para grandes aventuras.

Acontece que Moana não é só uma adolescente atrevida qualquer: no passado, os oceanos foram criados pela deusa Te Fiti, e os habitantes de Motonui eram seus protegidos. Um dia, o semideus Maui roubou o coração de Te Fiti, o que permitiu que a humanidade ganhasse o poder da criação, mas tornou os oceanos inseguros, e permitiu que o demônio Te Ka ameaçasse os domínios de Te Fiti. Milhares de anos se passaram, e Te Ka está mais perto do que nunca de destruir a humanidade; Moana foi a escolhida de Te Fiti para, retornando ao oceano, encontrar Maui e seu coração, devolvendo-o ao seu devido lugar e permitindo que a paz reine mais uma vez. O único problema é que o semideus é um chato convencido e exibido, e Moana terá muito trabalho para cumprir sua missão.

A história de Moana começaria a tomar forma em 2011, quando o diretor John Musker, de A Pequena Sereia e Aladdin, dentre outros, leu um livro sobre a mitologia polinésia, e ficou encantado com a riqueza de detalhes sobre os feitos heroicos de Maui. Intrigado por ter conhecido uma cultura tão rica e tão pouco divulgada no ocidente, ele achou que seria uma boa ideia produzir um longa de animação baseado na mitologia polinésia, e chamou Ron Clemens, seu habitual parceiro na direção de Clássicos Disney, para começar a trabalhar em um roteiro. Os dois apresentariam, ainda em 2011, a ideia a John Lasseter, então chefe do departamento de criação dos Estúdios Disney, que recomendaria que eles fizessem uma viagem para pesquisar mais elementos antes de começar a escrever o roteiro. Assim, em 2012, Musker e Clemens partiriam em uma viagem por Fiji, Samoa e Taiti, durante a qual conversaram com o povo local e aprenderam mais sobre sua cultura. Inicialmente, Musker havia pensado em fazer o filme centrado apenas em Maui, mas, durante essa viagem, concluiria que o melhor seria se a protagonista fosse uma adolescente, e Maui uma espécie de seu mentor.

Uma coisa que fascinou Musker e Clemens durante a viagem foi aprender que, apesar de as viagens exploratórias do povo polinésio serem anteriores até mesmo às dos europeus, tendo começado por volta do ano 300 a.C., um belo dia, sem nenhuma explicação, eles as abandonaram, e decidiram que iriam ficar restritos apenas a seu próprio território; essa "reclusão" durou cerca de mil anos, após os quais os polinésios voltariam a explorar os oceanos, sem maiores explicações. Os diretores adoraram o mistério por trás dessa história - até hoje não resolvido, sendo a teoria mais provável a de que mudanças climáticas interferiram com as correntes marítimas e ventos que os polinésios usavam para navegar, fazendo com que eles passassem a considerar a navegação perigosa - e decidiram que seu filme seria ambientado no fim desse período, inventando uma explicação tanto para a interrupção quanto para seu retorno. Motonui seria, evidentemente, uma ilha inventada, que reuniria características da antiguidade dos três países visitados por eles.

A pré-produção duraria cinco anos, durante os quais Musker e Clemens contariam com a ajuda de experts na cultura do Pacífico Sul, para que tudo no filme fosse o mais realístico possível - eles rejeitariam, por exemplo, que nos primeiros esboços Maui era careca, argumentando que não era comum homens rasparem a cabeça na antiguidade, sendo normal que eles tivessem vastas cabeleiras. A primeira versão do roteiro acabaria sendo escrita não por Musker e Clemans, mas pelo diretor e roteirista Taika Waititi, nascido na Nova Zelândia e descendente do povo maori; a história seria tão alterada desde então que Waititi brincaria que a única coisa que restou de sua versão foi a primeira linha - durante as sucessivas revisões, Moana teria um monte de irmãos, sofreria discriminação da tribo por ser mulher, se lançaria ao mar para salvar seu pai, desaparecido durante um naufrágio, ou seria seu pai quem tinha o desejo de explorar o mar, e ela apenas o acompanharia, ficando sozinha após ele desaparecer em um naufrágio.

Musker e Clemens seriam responsáveis pelas maiores mudanças, mas a maior parte dos elementos-chave do filme, como a tônica do relacionamento entre Moana e Maui, seria criação dos irmãos Aaron e Jordan Kandell; e a avó de Moana seria uma criação de Pamela Ribon, para que ela tivesse uma ligação com seus antepassados e um estímulo para ir ao mar. Quando a produção começou de vez, a equipe de animação identificou vários pequenos trechos que precisariam de ajustes antes que as cenas fossem animadas; como Musker e Clemens já estavam sobrecarregados, trabalhando de segunda a sábado doze horas por dia para que o filme pudesse ser concluído no prazo, a Disney chamaria os diretores Don Hall e Chris Williams, de Operação Big Hero, para fazer esses ajustes. Mesmo depois dessa gente toda mexer no roteiro, a Disney optaria por creditar como único roteirista Jared Bush, responsável por escrever a versão final enviada para o setor de animação.

Moana seria o primeiro filme de Musker e Clemens feito por computação gráfica; no início da pré-produção, eles cogitariam fazê-lo em animação tradicional, mas desistiram após considerar que o oceano ficaria muito mais bonito e realístico se fosse feito em CG. Apenas uma parte do filme seria feita com animação tradicional, as histórias contadas pelas tatuagens de Maui, que ficariam a cargo de Eric Goldberg, pois as versões em computação gráfica não teriam a aparência que os diretores queriam. Moana seria produzido simultaneamente a Zootopia, no mesmo local e usando os mesmos softwares, mas com duas equipes diferentes; esse esforço simultâneo permitiu que dois Clássicos Disney fossem lançados no mesmo ano, algo que não acontecia desde 2000, com Dinossauro e A Nova Onda do Imperador. Como os Estúdios Disney em Burbank estavam sendo reformados, Moana e Zootopia tiveram de ser produzidos em um galpão em North Hollywood; seria a segunda experiência do tipo para Musker e Clemens, já que A Pequena Sereia também havia sido produzido em um galpão, em Glendale.

Musker e Clemens queriam que a maior parte do elenco fosse de ascendência polinésia, e realizaram testes com centenas de candidatas até escolher Auli'i Cravalho (é Cravalho mesmo, não foi erro de digitação meu) para o papel de Moana; então com 14 anos, Cravalho se saiu tão bem no teste que os diretores pediriam para que ela trabalhasse junto com a equipe de animação para que Moana tivesse seus maneirismos ao falar. Nascida no Havaí, Cravalho é descendente de nativos havaianos por parte de mãe, mas seu pai, nascido em Porto Rico, tem antepassados portugueses, irlandeses e chineses; antes de se tornar atriz, ela sonhava em ser cantora, sendo a estrela do Clube do Coral de sua escola, e, graças a isso, também interpretou todas as músicas que Moana canta no filme. Cravalho também dublaria Moana na versão em havaiano, na primeira vez em que um Clássico Disney seria dublado nesse idioma.

Para o papel de Maui, Musker e Clemens escolheriam Dwayne Johnson, também conhecido como The Rock, o nome mais famoso do elenco, e que é de ascendência samoana. A mãe de Moana ficaria com a atriz e cantora Nicole Scherzinger, que, assim como Cravalho, nasceu no Havaí e descende de nativos havaianos por parte de mãe. O pai de Moana seria interpretado por Temuera Morrison, a avó por Rachel House, e o caranguejo Tamatoa por Jermaine Clement, todos os três neozelandeses de ascendência maori - assim como Cravalho na versão em havaiano, os três reprisariam seu papéis na versão dublada em maori.

Falando nisso, Moana, originalmente, seria dublado em 45 idiomas, mas, após seu lançamento, a Disney optaria por acrescentar mais seis, para um total de 51. O primeiro desses seis novos idiomas seria o taitiano, na segunda vez em que um Clássico Disney ganharia uma versão dublada especialmente em homenagem à cultura que inspirou o filme - a primeira foi quando O Rei Leão, em 1995, ganhou uma versão dublada em zulu (a versão em chinês de Mulan não conta porque os Clássicos Disney já são normalmente dublados em chinês desde A Pequena Sereia). A versão em taitiano seria distribuída gratuitamente em escolas do Taiti, mas até hoje ainda não se encontra disponível para o comércio, o mesmo ocorrendo com a já citada versão em havaiano, lançada em 2018 e distribuída gratuitamente nas escolas do Havaí, mas não com a versão maori, lançada em 2017 e disponível para venda na Nova Zelândia e Austrália. Os outros três "idiomas extras", caso alguém esteja curioso, não têm nada a ver com a Polinésia, e foram albanês, bengali e tâmil - mas vale o registro de que também foi a primeira vez em que um Clássico Disney foi dublado para eles.

Enquanto as "versões polinésias" seriam bastante elogiadas por linguistas, professores e pelos falantes de seus idiomas em geral, as versões europeias seriam bastante criticadas, especialmente a francesa. A questão, no caso, é que a França possui uma forte presença na Polinésia, já que, até hoje, lugares como Taiti, Bora Bora, Nova Caledônia e as ilhas Walis e Futuna são considerados parte da França; diferentemente do que Musker e Clemens fizeram, entretanto, os Estúdios Disney da França não se preocuparam em procurar atores polinésios, chamando apenas franceses europeus para a dublagem, o que resultaria em muitos protestos, inclusive do ator Yves Malakai, que, junto com o músico Ken Carlter, assim com ele, nascido no Taiti, fez uma campanha por uma nova dublagem em francês com "sotaque polinésio", que incluía uma versão do trailer oficial do filme dublado apenas por atores da Polinésia Francesa, que foi considerada por muitos críticos como melhor que a dublagem oficial. A campanha não sensibilizou a Disney, porém, e, até hoje, a única versão em francês que existe é a dos dubladores europeus.

Outro ponto controverso foi que, em quase toda a Europa, o filme e a personagem seriam rebatizados para Vaiana, pois "Moana" já era uma marca registrada da perfumaria espanhola Casa Margot; embora não houvesse problemas jurídicos, exceto na Espanha, a Disney optaria por usar o nome Vaiana também em outros países onde o perfume Moana Bouquet fosse comercializado - vale citar como curiosidade que, como em espanhol o V tem som de B, o nome da personagem na Espanha é falado "Baiana". Na Itália, a personagem continuou se chamando Moana, mas o filme mudou de nome para Oceania - segundo boatos, por causa da famosa atriz pornô Moana Pozzi, já que a Disney não quis que o filme ficasse associado a ela. Apenas em dois países europeus tanto a personagem quanto o filme se chamariam Moana, na Rússia e na Turquia.

Moana estrearia nos cinemas em 23 de novembro de 2016; com orçamento não revelado, mas estimado entre 150 e 175 milhões de dólares, renderia 248,7 milhões nos Estados Unidos, e quase 691 milhões no mundo inteiro, se tornando o quarto Clássico Disney a superar os 600 milhões, após Frozen, Operação Big Hero e Zootopia. A crítica seria amplamente favorável, elogiando principalmente a beleza do filme e as atuações de Cravalho e Johnson. A canção How Far I'll Go, escrita por Lin-Manuel Miranda e interpretada por Cravalho, ganharia um Grammy de Melhor Canção Escrita para uma Mídia Visual e seria indicada ao Oscar de Melhor Canção Original, perdendo para City of Stars, de La La Land; Moana também seria indicado ao Oscar de Melhor Filme de Animação, perdendo, ora vejam só, para Zootopia.

WiFi Ralph: Quebrando a Internet
Ralph Breaks the Internet
2018

Em 2012, pouco após a estreia de Detona Ralph, o diretor Rich Moore manifestou seu desejo de realizar uma sequência, que levaria Ralph e Vanellope para o mundo dos games online, e que gostaria de incluir Mario e Tron nela. As negociações com a Disney começariam ainda naquele ano, mas se arrastariam durante quase dois: somente em 2014 o compositor da trilha sonora de Detona Ralph, Henry Jackman, confirmaria em uma entrevista que o roteiro já estava sendo escrito, e somente em 2015 John C. Reilly, que faz a voz de Ralph, assinaria contrato para atuar também na sequência. A Disney só anunciaria a sequência oficialmente em 2016, quando também anunciaria o retorno de Moore, Reilly e do roteirista Phil Johnston, e revelaria que, no novo filme, Ralph deixaria os arcades para "quebrar a internet".

Duas versões do roteiro seriam descartadas antes de se chegar à versão final, incluindo uma na qual o vilão do filme é um antivírus que quer deletar Ralph. Desde o início, a equipe de produção se preocuparia com como iria relacionar a internet com algo do mundo real - como fizeram no primeiro filme, no qual o local onde os personagens dos games se encontram tem a aparência de uma estação de trem - e chegaria à conclusão de que a melhor forma seria mostrá-la como uma cidade, com diferentes prédios simbolizando diferentes sites, e bonequinhos que representavam as pessoas acessando a internet se movendo entre eles de acordo com quais sites essas pessoas visitavam. Em determinado momento, a internet era inclusive muito mais detalhada, mas veio uma ordem da Disney de que o filme não deveria ser sobre a internet, e sim sobre a amizade de Ralph e Vanellope, então eles tiveram que cortar alguns detalhes e simplificar outros.

No novo filme, o Sr. Litwak (Ed O'Neill) instala um roteador wi-fi no arcade, que abre o mundo da internet para seus frequentadores. Quando uma atitude impensada de Vanellope (Sarah Silverman) acaba danificando seu jogo Sugar Rush, ela e Ralph decidem usar o roteador para se aventurar pela internet e encontrar as peças que permitirão ao Sr. Litwak consertá-lo. Durante a viagem, eles passarão por uma jornada de crescimento e auto-conhecimento, durante a qual farão novos amigos: Shank (Gal Gadot), principal personagem do game de corrida online Slaughter Race, e Yesss (Taraji P. Henson), algoritmo que determina quais vídeos do site BuzzTube aparecerão para os usuários.

Várias marcas famosas da internet aparecem no filme, como eBay, Amazon, Twitter, IMDb e Google, mas a Disney não procuraria nenhuma delas nem receberia ofertas em dinheiro para que elas fossem incluídas, preferindo fazer "propaganda de graça" e contar com a boa vontade de cada uma para que elas não pedissem para ser retiradas, o que, de fato, não aconteceu; tirando a cena no eBay, entretanto, todas as cenas-chave envolvendo marcas usam marcas da própria Disney, e, sempre que possível, marcas inventadas - o site de buscas usado por Ralph e Vanellope, por exemplo, não é o Google, e sim o knowsmore.com (algo como "sabemais.com"). A equipe de produção também incluiria memes famosos da internet em algumas cenas, e faria questão de abordar temas considerados "pesados" como comentários maldosos, phishing (propagandas falsas nas quais a pessoa clica e tem seus dados roubados) e spam (mensagens não-solicitadas).

Uma das cenas mais famosas do filme, na qual Ralph e Vanellope encontram as Princesas Disney, seria ideia da roteirista Pamela Ribon, que, durante uma sessão de troca de ideias em 2014, diria que Vanellope é "a perfeita definição de uma Princesa Disney", pois tem todos os elementos que caracterizam esse tipo de personagem. Quando Johnston começou a escrever o roteiro da sequência, Ribon o procurou e sugeriu a cena, que seria tanto uma propaganda do site ohmydisney.com, onde o encontro acontece no filme, quanto uma espécie de auto-sátira, já que o filme faria graça com as características das Princesas. A cena daria muito trabalho para a equipe de animação, que teria que encontrar um estilo unificado para todas as Princesas - já que, em seus filmes originais, elas foram desenhadas usando várias técnicas de animação diferentes - e ainda deduzir qual seria a altura de cada uma em relação às outras - Aurora é mais alta, Mulan é mais baixinha. Ao todo, 14 Princesas aparecem na cena, as 12 oficiais mais as duas irmãs de Frozen: Branca de Neve (Branca de Neve e os Sete Anões, voz de Pamela Ribon), Cinderela (Cinderela, voz de Jennifer Hale), Aurora (A Bela Adormecida, voz de Kate Higgins), Ariel (A Pequena Sereia, voz de Jodi Benson), Bela (A Bela e a Fera, voz de Paige O'Hara), Jasmine (Aladdin, voz de Linda Larkin), Pocahontas (Pocahontas, voz de Irene Bedard), Mulan (Mulan, voz de Ming-Na Wen), Tiana (A Princesa e o Sapo, voz de Anika Noni Rose), Rapunzel (Enrolados, voz de Mandy Moore), Mérida (Valente, da Pixar, voz de Kelly Macdonald), Anna (Frozen, voz de Kristen Bell), Elsa (Frozen, voz de Idina Menzel) e Moana (Moana, voz de Auli'i Cravalho), além de Rajah, o tigre de estimação de Jasmine; Meeko, o guaxinim amigo de Pocahontas; os ratinhos e passarinhos que ajudam Cinderela; e do Príncipe Nareen, transformado em sapo (e confindido com Frogger, do jogo de mesmo nome, por Ralph). Todas as princesas têm as mesmas dubladoras de seus filmes originais, exceto por Cinderela e Aurora, dubladas por suas atuais dubladoras oficiais, e por Branca de Neve, dublada por Ribon (pois Adriana Caselotti, dubladora original de Branca de Neve, e Ilene Woods, dubladora original de Cinderela, já são falecidas, e Mary Costa, dubladora original de Aurora, está com 90 anos e aposentada); essa seria, inclusive, a primeira vez em que Macdonald dublaria Mérida depois de Valente.

Outros personagens que participam do filme com seus dubladores originais são C3-PO (Anthony Daniels), Eeyore (Brad Garett) e Sonic (Roger Craig Smith, que dublava o personagem na série animada). Tim Robbins e Vin Diesel fazem as vozes de Buzz Lightyer e Groot, respectivamente, mas foram usadas falas retiradas de Toy Story e Guardiões da Galáxia Vol. 2 ao invés de os atores gravarem novas. Os youtubbers Colleen Ballinger, Dani Fernandez e Tiffany Herrera, e a banda Imagine Dragons fazem participações especiais, assim como Stan Lee, que aparece em uma cena falando com o Homem de Ferro. Jane Lynch e Jack McBrayer repetem seus papéis de Calhoun e Felix, Jr. do primeiro filme, e Alan Tudyk, que no primeiro filme dublou o Rei, faz a voz do mecanismo de busca Knowsmore. Também merecem ser citados Bill Hader como J.P. Spamley e Alfred Molina como Double Dan, personagens que habitam a deep web e lidam com atividades escusas.

Com tanta gente em cena, WiFi Ralph se tornaria o Clássico Disney com o maior número de personagens, com 474 modelos individuais de personagem e 6.752 personagens no total (a diferença ocorre porque alguns, como os Stormtroopers, contam como um personagem individual, mas cada um de seu grupo conta como um personagem para o total). Ao melhor estilo Marvel, o filme também contaria com duas surpresas após o final, uma cena pós-créditos criada após a finalização do filme - e que fez com que Reilly, que já estava de férias com a família, tivesse que ir até um estúdio em Nova Iorque gravar suas falas - e uma cena "intercréditos" que faz uma sátira ao fato de alguns filmes conterem cenas nos trailers que não estão presentes na versão final - motivada pelo fato de que a equipe de animação realmente preparou uma cena que fez muito sucesso no trailer, mas depois, devido a algumas alterações de última hora no roteiro, ficou sem lugar durante o filme.

Com direção de Moore e Johnston, e roteiro de Johnston e Ribon, WiFi Ralph estrearia em 5 de novembro de 2018, se tornando apenas a segunda sequência de um Clássico Disney a ser ela mesma um Clássico Disney - a primeira foi Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus; Winnie the Pooh não conta porque não foi uma sequência, e sim um reboot. Com orçamento de 175 milhões de dólares, rendeu 201 milhões apenas nos Estados Unidos (sendo 3,8 milhões apenas no primeiro dia, um recorde para um filme que estreou no feriado de Ação de Graças, o que fez com que seu rendimento no primeiro fim de semana fosse de 18,5 milhões) e 529 milhões no mundo inteiro; a crítica também o receberia muito bem, considerando-o uma evolução em relação ao primeiro, e salientando o desenvolvimento da relação entre Ralph e Vanellope. WiFi Ralph seria indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Animação, mas perderia ambos para Homem-Aranha no Aranhaverso.

Frozen 2
2019

Até 2019, Frozen era não só o mais bem sucedido dos Clássicos Disney, mas também o mais rentável filme de animação de todos os tempos (sendo ultrapassado, naquele ano, pela versão nova de O Rei Leão). Uma questão, porém, incomodava a muitos fãs (mas não a mim, gostaria de deixar claro): por que a Elza tinha poderes? Ela nasceu assim? Foi amaldiçoada? Foi mordida por um floco de neve radioativo? Diante dessa questão (e também devido ao grande sucesso do filme), desde 2014 a Disney seria questionada sobre uma sequência. De início, a posição oficial era que uma sequência não estava nos planos, e que o foco seria na adaptação de Frozen para um musical da Broadway, que estrearia em 2017. Bob Iger, presidente da Disney na época, diria em entrevistas que não forçaria ninguém a escrever uma sequência, pois o resultado jamais sairia bom, e que deixaria que as coisas acontecessem naturalmente.

Em junho de 2014, porém, John Lasseter, chefe da equipe criativa, procuraria Chris Buck e Jennifer Lee, diretores de Frozen, e lhes diria que a Disney estava pronta para dar todo o apoio que eles necessitassem para fazer uma sequência, "se fosse isso que seus corações quisessem". Buck e Lee já haviam começado a trabalhar em outra história, mas, ao dirigir o curta Frozen: Febre Congelante, lançado em 2015, perceberiam que ainda tinham vontade de trabalhar com os personagens de Frozen, e se reuniriam com o produtor Peter Del Vecho, que, durante uma palestra, havia sido bombardeado por perguntas dos fãs sobre elementos do primeiro filme, para discutir a possibilidade de um segundo. Buck e Lee já tinham uma ideia bem clara de como queriam que esse segundo filme terminasse, e se empenhariam para que tudo se encaixasse da melhor forma possível para obter esse final; Buck, Lee, Marc E. Smith e os compositores Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez trabalhariam no roteiro, com a versão final ficando a cargo de Lee, que seria a única creditada como roteirista.

Nessa segunda aventura, Elsa (Idina Menzel) começa a ouvir uma voz misteriosa (dublada pela cantora norueguesa Aurora), e, seguindo a orientação do chefe dos trolls, Pabbie (Ciarán Hinds), parte em uma jornada pela Floresta Encantada, em companhia de sua irmã Anna (Kristen Bell), do boneco de neve Olaf (Josh Gad), do namorado de Anna, Kristoff (Jonathan Groff), e da rena Sven. Na floresta, Elsa e Anna descobrirão detalhes nunca revelados sobre o acidente que vitimou seus pais, o Rei Agnarr (Alfred Molina) e a Rainha Iduna (Evan Rachel Wood); encontrarão uma tropa de soldados que estão perdidos na floresta há 30 anos, liderados por Mattias (Sterling K. Brown); travarão contato com criaturas místicas, como os gigantes de pedra; e entrarão em conflito com a tribo Nortaldra, liderada por Yelena (Martha Plimpton), e da qual fazem parte os irmãos Honeymaren (Rachel Matthews) e Ryder (Jason Ritter), que compartilha com Kristoff o amor pelas renas. Mas o mais importante é que, durante sua jornada, Elsa descobrirá mais sobre seus poderes, inclusive sobre sua origem. Também fazem parte do elenco Jeremy Sisto como Runeard, o avô de Anna e Elsa, e Alan Tudyk como vários personagens secundários.

Para dar maior veracidade aos cenários e criaturas místicas do filme, a equipe de produção teria contato com uma equipe de estudiosos da cultura do povo sámi - também conhecidos em português como lapões - um povo indígena que vive no norte da Noruega, Suécia, Finlândia e na península de Kola, na Rússia. A Disney firmaria um acordo com o Conselho Sámi Transnacional, órgão que protege os interesses do povo sámi, para que todos os elementos do filme respeitassem a cultura sámi, e nenhum fosse mostrado como estereotipado. As principais criaturas místicas a aparecer no filme são os nøkk, cuja aparência líquida e fluida deu muito trabalho à equipe de animação, que se baseou no oceano de Moana para começar seu trabalho; oito meses de produção foram necessários apenas para criar e modelar os nøkk. Vale citar também que o chefe da equipe de animação, Wayne Unten, queria que Elsa usasse seus poderes como no primeiro filme, como se eles fossem parte de sua personalidade, com movimentos leves como os de uma dança; no início do processo de criação da personagem, ele chamaria todos os animadores responsáveis pelas cenas de Elsa, mostraria a eles várias cenas do super-herói Gelado, de Os Incríveis, e diria que aquilo era exatamente o contrário do que ele estava querendo.

Para criar os nøkk os animadores conseguiriam usar os softwares já existentes, mas, para o espírito do vento Gale, teve de ser inventado um novo, chamado Swoop, que exigiu a cooperação entre quatro equipes de animação diferentes para que fosse obtido o efeito desejado. Os gigantes de pedra também exigiriam um intenso trabalho para que realmente se parecessem com pedras que se moviam, e não com seres que tinham pele com aparência de pedra; pequenas pedras caem de suas articulações quando eles se movem, e a equipe teve de ter cuidado para que elas não distraíssem o público. Apesar disso, as equipes de animação do filme se superariam no uso dos softwares disponíveis, ao ponto de que alguns elementos ficariam tão realísticos que não combinariam com os personagens que tinham de interagir com eles, tendo de ser "piorados" de propósito. Uma das principais dificuldades dos animadores seria quanto a aparência de Olaf, que ou ficava falsa demais ou realística demais; para chegar a um meio-termo, eles pediriam para que os diretores concordassem que ele estava sob efeito dos poderes de Elsa, parecendo sempre estar ligeiramente congelado.

Após a primeira exibição para as plateias de teste, o filme teve de ser significativamente alterado, pois os avaliadores concluiriam que, apesar de os adultos terem gostado do filme, as crianças tiveram muita dificuldade para entender a história. Uma equipe de animadores teria de trabalhar durante mais dois meses para modificar diversas cenas, incluindo mais humor e esclarecendo alguns pontos da trama; ao todo 61 novas cenas seriam criadas e 35 modificadas, mas a Disney não divulgaria quantas seriam cortadas da versão final do filme - sabe-se que a versão final tem muio mais cenas do personagem Bruni, a salamandra de fogo, do que a primeira versão; que a recapitulação que Olaf faz do primeiro filme foi criada apenas para a versão final, para substituir um diálogo considerado "interminável" e "muito adulto" pelas plateias de teste; e que uma cena extremamente elaborada e trabalhosa envolvendo Olaf ficaria de fora da versão final.

Assim como Moana e O Rei Leão, Frozen 2 ganharia uma dublagem oficial em homenagem à cultura do filme - no caso, evidentemente, em sámi. A dublagem em sámi seria supervisionada pelo Instituto Internacional de Cinema Sámi, que, curiosamente, em 2014 fez um pedido à Disney para que Frozen ganhasse uma versão dublada em sámi, que foi negado. Ao todo, Frozen 2 teria dublagens oficiais em 46 idiomas, quatro a mais que Frozen, incluindo, pela primeira vez para um Clássico Disney, uma versão em telugu.

Frozen 2 seria lançado em 7 de novembro de 2019; com orçamento não revelado, mas estimado em 150 milhões de dólares, renderia 477,4 milhões apenas nos Estados Unidos, sendo 42,2 milhões apenas no primeiro dia, e ficando em primeiro lugar na bilheteria durante suas quatro primeiras semanas, até ser destronado por Jumanji: Próxima Fase. Somando as bilheterias do mundo inteiro, Frozen 2 faria 358,5 milhões no primeiro fim de semana, recorde para um filme de animação, e 1,450 bilhão no total, ultrapassando Frozen e ficando atrás apenas do já citado O Rei Leão de 2019, que renderia 1,658 bilhão, na lista dos filmes de animação de melhor bilheteria de todos os tempos. A crítica também receberia o filme extremamente bem, considerando-o pior que o primeiro, mas excelente por seus próprios méritos; ele seria indicado a apenas um Oscar, de Melhor Canção Original por Into the Unknown, o qual perderia para (I'm Gonna) Love Me Again, de Rocketman.

Bônus!!!!!

Esse é o primeiro post da série no qual eu falei sobre as versões dos desenhos dubladas em outros idiomas (culpa da Moana), e, ao pesquisar sobre o assunto, descobri coisas interessantes (bom, na verdade algumas eu já sabia, mas ainda não tinha falado aqui) que decidi compartilhar com vocês.

Desde 1988, todas as produções Disney - para cinema e TV, e não somente os desenhos, mas os filmes também - são dubladas, em todo o planeta, pela própria Disney. Em outras palavras, tudo da Disney que é lançado no Brasil dublado em português, por exemplo, desde 1988 é dublado pela Disney Brasil, nunca acontecendo de um outro estúdio (como, por exemplo, a Herbert Richers, que dublou algumas produções anteriores a 1988) ser contratado pela Disney para fazer as dublagens. Além disso, desde 1988, quem coordena todas as dublagens Disney em todo o mundo é uma empresa chamada Disney Character Voices International (DCVI), que estabelece rígidos padrões de qualidade, para que todas as dublagens sejam pelo menos do mesmo nível que as originais norte-americanas. É a DCVI que determina em quais idiomas cada produção será dublada, com alguns idiomas fazendo parte de uma "lista fixa", e outros sendo adicionados caso a caso.

Em relação aos Clássicos Disney, que é o que interessa para essa série, o primeiro a ganhar dublagens em idiomas estrangeiros, supervisionadas pelo próprio Walt Disney, foi justamente o primeiro de todos, Branca de Neve e os Sete Anões, que, além da versão original em inglês, teve dublagens em dez idiomas: português brasileiro, alemão, dinamarquês, espanhol latino-americano, francês europeu, holandês, italiano, polonês, sueco e tcheco. Esses onze (contando com o inglês) se uniriam a outros nove para formar uma lista fixa de vinte, para os quais todos os Clássicos Disney seriam dublados de Pinóquio a Bernardo e Bianca: árabe, eslovaco, finlandês, grego, húngaro, japonês, norueguês, persa e turco. Com a revolução islâmica de 1979, a Disney parou de lançar filmes no Irã e o persa saiu da lista, mas os Clássicos entre O Cão e a Raposa e Oliver e Sua Turma ainda foram dublados nos demais 19 da lista.

Com a criação da DCVI, outros 14 idiomas foram adicionados à lista, para dublar os filmes entre A Pequena Sereia e A Nova Onda do Imperador, para um total de 33: cantonês, catalão, coreano, espanhol europeu, flamengo, francês canadense, guoyu, hebraico, islandês, mandarim, português europeu, romeno, russo e tailandês. Em 2000, mais dez seriam adicionados à lista fixa, que ficaria, de Atlantis a Frozen 2, com 43: búlgaro, cazaque, croata, esloveno, estoniano, letão, lituano, sérvio, ucraniano e vietnamita.

Além dos 43 da lista fixa, desde 2000 a DCVI tem autorizado dublagens em dez outros idiomas, avaliados caso a caso, dependendo da procura que a Disney acredita que cada Clássico terá nos cinemas de cada país: albanês, bengali, galego, hindi, indonésio, malaio, marata, tâmil, telugu e urdu. Finalmente, como vimos hoje, alguns Clássicos ganharam dublagens em idiomas específicos, em homenagem às culturas neles retratadas, e que provavelmente não voltarão a dublar outros Clássicos (exceto, sei lá, em caso de sequências): zulu (O Rei Leão), havaiano, maori, taitiano (Moana) e sámi (Frozen 2).

Série Clássicos Disney

•Moana
•WiFi Ralph
•Frozen 2

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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Escrito por em 31.10.16 com 0 comentários

Clássicos Disney (XIX)

Semana passada, eu me dei conta de que já haviam sido lançados mais dois Kamen Riders desde que eu terminei a série, o que me motivou a escrever mais um post. Como costuma acontecer de vez em quando, tal fato me chamou a atenção para outra situação semelhante: já foram lançados mais três Clássicos Disney desde que eu escrevi o último post daquela série. Para aproveitar a oportunidade, portanto, vamos a eles!

Frozen: Uma Aventura Congelante
Frozen
2013

Assim como Enrolados (cujo nome em inglês é Tangled), para Frozen (que, em português, significa "congelados") a Disney optaria por um verbo no particípio como título; dessa vez, porém, a escolha pareceria mais acertada: Enrolados é claramente uma adaptação de Rapunzel, enquanto Frozen, embora tenha começado como uma adaptação de A Rainha da Neve, de Hans Christian Andersen, acabou se tornando algo completamente diferente.

Originalmente publicado em 1845, A Rainha da Neve é um dos mais aclamados contos de Andersen, assim como o mais longo - é dividido em sete partes, e tem mais que o dobro de páginas de A Pequena Sereia, o segundo da lista. Ele conta a história de dois amigos, o menino Kay e a menina Gerda, vizinhos em uma grande cidade. Há milênios, um troll criou um espelho mágico, capaz de distorcer a imagem de qualquer coisa que reflete, e de transformar pessoas boas em malignas caso elas se olhem nele. Ao tentar levá-lo para o Reino dos Céus, porém, ele o deixa cair, e o espelho se parte em um bilhão de pedaços, alguns menores que um grão de areia. Esses pedaços, entretanto, são tão perigosos quanto o próprio espelho, pois podem contaminar uma pessoa e torná-la maligna caso ela tenha contato com eles. É justamente o que acontece com Kay, que, durante um passeio em um dia de verão, entra em contato com alguns pedaços, que entram em seu coração e seus olhos. Se tornando maligno, Kay não quer saber mais de Gerda, foge de casa, e acaba encontrando a Rainha da Neve, feiticeira com o poder de controlar a neve e o gelo, que o leva para morar com ele em seu castelo. Os moradores da cidade acreditam que Kay se afogou no rio, último local em que foi visto, mas Gerda não se conforma, partindo para tentar encontrá-lo e reatar sua amizade.

Na década de 1930, a Disney tentaria adaptar A Rainha da Neve nada menos que três vezes, a primeira logo no início da década, quando Walt Disney pensaria em produzir uma série de desenhos adaptando as histórias de Andersen, ideia essa que jamais saiu do papel. Em 1937, após o sucesso de Branca de Neve e os Sete Anões, a ideia voltaria à tona, dessa vez no formato de um package film, longa-metragem composto de diversos episódios, no caso um para cada uma das mais famosas histórias do autor, incluindo A Pequena Sereia, A Rainha da Neve, O Patinho Feio, A Polegarzinha e A Roupa Nova do Imperador, dentre outras. Devido a várias circunstâncias jamais explicadas satisfatoriamente, esse projeto também seria abandonado. Por fim, em 1940, Disney proporia ao produtor Samuel Goldwyn uma parceria no projeto de um filme sobre a vida de Andersen, que teria sequências filmadas, com atores interpretando o escritor, seus amigos e familiares em situações de seu dia a dia, intercaladas com sequências de animação inspiradas em suas mais famosas histórias. Nos termos dessa parceria, a produtora Samuel Goldwyn Productions ficaria responsável pela parte filmada, enquanto a Disney faria a parte animada, e ambos dividiriam o lucro. Goldwyn aceitaria e a produção teria início, mas, na Disney, a sequência de A Rainha da Neve se mostraria a mais problemática, não somente por ser a história mais longa, mas também por ser a mais sombria, o que fez com que os roteiristas tivessem grande dificuldade em adaptá-la para um filme apropriado para o público infantil. Com o envolvimento dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, o projeto seria abandonado, e um roteiro definitivo jamais seria escrito. Em 1952, Goldwyn aproveitaria o roteiro que já tinha e lançaria o filme Hans Christian Andersen, com Danny Kaye no papel do escritor e distribuído pela RKO; sem a participação da Disney, porém, as sequências dos contos de fadas em animação seriam substituídas por cenas de balé, nas quais os bailarinos interpretariam os personagens das histórias ao som de músicas clássicas. Na Disney, apesar de alguns roteiros já terem sido escritos, e até de algumas artes conceituais já terem sido produzidas, todo o projeto seria engavetado, e, durante anos, o estúdio jamais adaptaria uma história de Andersen.

A primeira história de Andersen adaptada pela Disney seria A Pequena Sereia, lançado apenas em 1989, quase sessenta anos após o primeiro projeto. Além de ser a primeira história de Andersen, o filme de Ariel seria o primeiro conto de fadas adaptado pela Disney desde A Bela Adormecida, trinta anos antes, e o maior sucesso do estúdio em décadas, inaugurando um período que ficaria conhecido como Renascença Disney, no qual o estúdio voltaria a investir pesado nos desenhos de longa-metragem para os cinemas, que, nos anos anteriores, vinham sendo gradativamente relegados a segundo plano em prol de desenhos para a TV, parques temáticos e filmes.

Durante a Renascença Disney, evidentemente, A Rainha da Neve foi uma das histórias mais cotadas para se tornar um longa-metragem para o cinema - afinal, se a coisa começou com Andersen, era natural que seguisse com ele. O animador Glen Keane, que trabalhou em A Pequena Sereia e A Bela e a Fera, seria posto à frente do projeto, mas a equipe de roteiristas encontraria exatamente as mesmas dificuldades daquela da década de 1940: a história era sombria e complexa demais para um filme infantil, era difícil transformar Kay e Gerda em personagens com os quais as crianças pudessem se relacionar, e a Rainha da Neve tinha um papel, apesar de instrumental, minúsculo, o que faria com que ela não se tornasse um vilão Disney memorável - no conto original, inclusive, quando Gerda chega no castelo a Rainha da Neve nem está lá, e ela salva Kay sem qualquer tipo de embate final. Após anos de tentativas, Keane abandonaria o projeto em 2002, e ele seria novamente engavetado.

O presidente da Disney na época, Michael Eisner, não queria que o projeto fosse abandonado de vez, e o ofereceria à Pixar, que então era um estúdio independente que tinha um contrato de distribuição com a Disney. A Pixar não aceitou, mas, em uma jogada do destino, em 2006 ela seria comprada pela Disney, e o diretor John Lasseter (de Toy Story e Carros) seria nomeado seu CCO (Chief Creative Officer), uma espécie de responsável pela parte criativa do estúdio, ao qual todos os diretores, diretores de arte e animadores são subordinados. Um dos primeiros atos de Lasseter foi trazer de volta o diretor Chris Buck, que, depois de dirigir Tarzan, em 1999, trocou a Disney pela Sony. Buck apresentou vários projetos a Lasseter, dentre eles uma adaptação de A Rainha da Neve com algumas mudanças, dentre elas a de que a principal relação da protagonista (chamada Anna, e não Gerda) era com a Rainha da Neve, e não com Kay, aumentando a participação da vilã e abrindo novas possibilidades para a história. Coincidentemente, quando a Disney apresentou o projeto de A Rainha da Neve à Pixar, Lasseter, que trabalhava lá, pôde ver a arte conceitual não somente do projeto da década de 1990, mas também a de 1940, ficando absolutamente encantado, o que fez com que ele aceitasse a proposta de Buck na hora. Com o título provisório de Anna e a Rainha da Neve, o desenho, que seria feito em animação tradicional - seguindo um planejamento estabelecido em 2010, segundo o qual a Disney alternaria Clássicos feitos em computação gráfica com feitos em animação tradicional, mas que, depois de Frozen, seria abandonado - entraria em pré-produção, previsto para estrear em 2010.

Ainda não seria dessa vez, porém, que A Rainha da Neve sairia do papel. 2010 chegaria e o roteiro ainda não estaria pronto, devido aos mesmos problemas de sempre: história sombria e complexa demais e personagens com os quais o público não conseguiria se relacionar. O projeto seria engavetado mais uma vez, mas, agora, apenas por cerca de um ano: após o sucesso de Enrolados, Lasseter decidiria fazer dele um filme em computação gráfica, com estreia prevista para 2013. Para evitar que o prazo fatal novamente chegasse sem que nada estivesse pronto, ele chamaria Buck e o produtor Peter del Vecho para reuniões semanais, que contariam também com a presença de outros profissionais envolvidos no projeto. Em uma dessas reuniões surgiria a ideia que mudaria a história do filme para sempre: ao abordar o problema de que o público não conseguia se identificar com os personagens, Lasseter opinaria que isso ocorria porque a Rainha da Neve era um "vilão Disney tradicional", e que a relação entre ela e Anna parecia forçada. Segundo ele, as ideias propostas por Buck eram divertidas e suaves, mas os personagens não combinavam com elas, sendo sérios e sombrios. Os membros da equipe, então, começariam a escrever várias ideias para solucionar esse problema, até que um deles - quem, exatamente, ninguém se lembra, de acordo com a versão oficial - daria uma solução simples: e se Anna e a Rainha da Neve fossem não amigas, mas irmãs?

Essa pequena mudança daria margem para várias outras, como, por exemplo, fazer com que a Rainha da Neve fosse não uma vilã per se, e sim uma personagem vista pelos outros como vilã, mas não por sua irmã, que tentaria ser fiel a ela independentemente da situação - ideia essa dada pelos compositores das músicas do desenho, o casal Robert Lopez e Kristen Anderson-Lopez. O amor fraternal também era pouco explorado nos Clássicos Disney, sendo a única exceção de destaque Lilo & Stitch. A equipe ficaria tão animada com o projeto depois dessa mudança que passaria a convidar outras funcionárias da Disney, sem qualquer relação com ele, para as reuniões, sendo o único pré-requisito para ser convidada o de que tivessem uma irmã, e expusessem na reunião como era seu relacionamento com ela. Uma dos roteiristas de Detona Ralph, Jennifer Lee, seria chamada para escrever o roteiro, que, finalmente, receberia a aprovação final. Lasseter ficaria tão satisfeito com o roteiro de Lee que a convidaria para ser co-diretora ao lado de Buck, o que faria com que ela se tornasse a primeira mulher a dirigir um Clássico Disney.

Frozen é ambientado no reino de Arendelle; as irmãs Anna (Kristen Bell) e Elsa (Idina Menzel) são suas princesas, filhas do Rei e da Rainha. Por algum motivo que ninguém explica, Elsa nasceu com o poder de criar e controlar neve e gelo, os quais usa para brincar com Anna; um dia, porém, ela quase mata Anna acidentalmente, e, após recorrer ao Rei dos Trolls (Ciarán Hinds, de Roma e Game of Thrones) para salvá-la, o Rei decide isolá-las, para evitar que Elsa machuque mais alguém. As irmãs crescem sem nenhum contato, com Elsa se tornando amargurada.

Um dia, o Rei e a Rainha morrem em uma viagem de navio, e Elsa, como filha mais velha, será coroada a nova Rainha de Arendelle. Durante a festa, Anna conhece o príncipe Hans (Santino Fontana), das Ilhas do Sul, e se apaixona. Anna diz a Elsa que ela e Hans vão se casar, e Elsa, contrária à união, se envolve em uma discussão com a irmã, durante a qual, acidentalmente, usa seus poderes. O Duque de Weselton (Alan Tudyk, de Firefly), que planeja transformar Arendelle em um polo turístico, declara que Elsa é um monstro, e conclama a população a persegui-la e prendê-la. Elsa foge para as montanhas, e Anna, querendo fazer as pazes com a irmã, vai atrás dela. Para encontrá-la, ela contará com a ajuda do geleiro Kristoff (Jonathan Groff, de Glee) e de sua fiel rena Sven, e, ao chegar ao castelo de Elsa, onde enfrentarão toda sorte de perigos, do animado boneco de neve Olaf (Josh Gad).

A decisão de mudar o nome do filme para Frozen seria de del Vecho, que achou que o título A Rainha da Neve já não cabia devido às alterações feitas; evidentemente, esse título foi muito comparado ao de Enrolados pela mídia norte-americana o que desagradou ao produtor, que sempre enfatizava em suas entrevistas que a mudança não representava um novo padrão nos títulos dos Clássicos Disney, e que um desenho não tinha nada a ver com o outro. Apesar de ter sido mantido em inglês na maior parte do mundo (incluindo no Brasil, onde ganhou um subtítulo para disfarçar), o título foi traduzido para o idioma local em alguns países, como Dinamarca, Noruega, Suécia; curiosamente, em alguns outros, como França, Alemanha e Japão, ele foi traduzido de A Rainha da Neve (La Reine des Neiges na França, por exemplo).

Kristen Bell, conhecida por ser a protagonista de Veronica Mars, mas também cantora de respeito, foi indicada para o papel de Anna por Lee, que, junto com os produtores, ouviu uma série de fitas que ela gravou na infância, interpretando canções de filmes da Disney como A Pequena Sereia e A Bela e a Fera. Já Idina Menzel, veterana da Broadway com papéis em Encantada e Glee, foi indicada para o papel de Elsa pelo diretor de elenco de Enrolados, Jamie Sparer Roberts; Menzel havia feito o teste para o papel de Rapunzel, e, apesar de não ter sido aprovada, impressionou Roberts, que gravou sua performance no celular, mostrando-a quando da indicação a Lasseter. Bell e Menzel armaram um plano infalível para ganhar seus papéis: antes do dia do teste, ambas foram convidadas para um jantar com Lasseter, Roberts, del Vecho, Buck, Lee, Lopez e Anderson-Lopez, durante o qual deveriam fazer uma leitura de parte do roteiro; após receber o convite, Bell telefonou para Menzel e combinou de ir até sua casa, estudar o roteiro e preparar uma surpresa - ao final da leitura, ambas cantaram, a capella (sem acompanhamento de uma banda), a canção Wind Beneath My Wings, escrita em 1982 por Jeff Silbar e Larry Henley. O dueto foi tão impressionante que Lasseter contratou as duas ali mesmo, sem necessidade de outros testes, argumentando que elas "cantaram como verdadeiras irmãs".

A direção de arte coube a Michael Giaimo, outro trazido de volta por Lasseter, que trabalhou em Pocahontas mas depois foi para a TV, onde trabalhou, dentre outras, na série Hi Hi Puffy AmiYumi. Giaimo e sua equipe viajaram para a Noruega para estudar as paisagens típicas de lá (vários locais reais, como a Fortaleza de Akershus, em Oslo, a Catedral de Nidaros, em Trondheim, e as docas de Bryggen, em Bergen, aparecem no desenho), enquanto a equipe responsável pelos efeitos especiais foi estudar o comportamento da neve no estado norte-americano do Wyoming, produzindo horas de filmagens nas quais corriam, pulavam e caíam na neve usando vários tipos de roupas diferentes, para tentar reproduzir os movimentos com exatidão na computação gráfica. Também como parte da preparação, uma rena de verdade foi levada para o estúdio, para a equipe estudar seus movimentos, e um professor do California Institute of Technology foi até a Disney dar uma palestra sobre como a neve e o gelo se formam, e por que cada floco de neve é único. Os engenheiros da Disney criariam um programa próprio, chamado Matterhorn especialmente para criar a neve, para que ela se comportasse exatamente da forma como acontece no mundo real.

Frozen seria lançado em 27 de novembro de 2013. Com orçamento de 150 milhões de dólares, renderia mais de 400 milhões apenas nos Estados Unidos, e mais de 1,2 bilhão de dólares em todo o planeta, se tornando o filme de animação mais bem sucedido de todos os tempos e o nono filme de maior bilheteria da história. Frozen seria o filme de maior bilheteria de 2013, desbancaria O Rei Leão (lançado quase vinte anos antes) como Clássico Disney de maior bilheteria, e se tornaria o mais bem sucedido filme, de animação ou não, produzido pela Disney em todos os tempos (sem contar com Star Wars: O Despertar da Força, produzido pela Lucasfilm, e Vingadores e Vingadores: Era de Ultron, produzidos pela Marvel Studios, ambas de propriedade da Disney, caso contrário, Frozen cai para quarto lugar). O filme também seria um sucesso de crítica, com todas sendo extremamente positivas e favoráveis, e alguns críticos chegando a preconizar que ele estava inaugurando uma segunda Renascença Disney. Frozen também seria indicado a dois Oscars, de Melhor Filme de Animação e de Melhor Canção Original (Let It Go), ganhando ambos.

Frozen foi tão bem sucedido que a Disney já planeja quebrar uma tradição e produzir um Frozen 2, que seria a primeira sequência de um Clássico Disney a ser também um Clássico Disney. Por enquanto, a data de estreia prevista é 2018, mas ainda não há detalhes sobre qual seria o enredo.

Operação Big Hero
Big Hero 6
2014


Em 2009, a Disney compraria a Marvel, em uma jogada que seria boa para ambas as partes: a Casa das Ideias vinha há anos lutando contra problemas financeiros, que quase a levaram à falência mais de uma vez, enquanto a Casa do Mickey vinha há anos tentando aumentar sua popularidade dentre os meninos - principalmente devido a suas Princesas, nos Estados Unidos a Disney é vista pela maior parte da população como produtora de entretenimento para meninas, com até mesmo os desenhos mais neutros, como Mickey e Donald, falhando em obter sucesso dentre os meninos. Comprar a dona de um grupo de super-heróis bem no momento em que seus filmes estavam batendo recordes de público, portanto, assegurava não somente a segurança financeira da Marvel, como também um enorme retorno e a construção de uma nova base de fãs para a Disney.

Após a aquisição, o presidente da Disney na época, Bob Iger, passaria a encorajar o uso de personagens Marvel por todas as divisões de entretenimento da Disney, para tentar criar uma ligação permanente entre os personagens de ambas as companhias. Em 2011, enquanto co-dirigia Winnie the Pooh, Don Hall estava pesquisando o banco de dados da Marvel, cogitando fazer uma adaptação de algum título da editora como seu próximo trabalho, quando encontrou uma revista chamada Big Hero 6, da qual nunca havia ouvido falar. Hall se interessou por essa revista principalmente por causa do título, que achou bem interessante para uma equipe de super-heróis, mas também se lembrou de algo que Iger havia dito: ao invés de focar em personagens como Homem-Aranha ou Capitão América, o ideal seria que as adaptações feitas pela Disney abordassem personagens menos conhecidos, pois isso daria às equipes maior liberdade para adequá-los a suas próprias ideias. Após finalizar Winnie the Pooh, Hall apresentou sua ideia a Lasseter, que a aprovou, e colocou o projeto em pré-produção.

Apesar de usar nomes e conceitos dos quadrinhos, a Disney planejava que sua versão de Big Hero 6 fosse a mais original possível, e, para isso, o chefe de história Paul Briggs leria apenas algumas edições da revista, para se familiarizar com os personagens, enquanto o roteirista, Robert L. Baird, não leria nenhuma. O desenho também seria produzido exclusivamente pela Disney, sem nenhum envolvimento da Marvel, exceto pela presença dos roteiristas de longa data Joe Quesada, na época editor da Marvel, e Jeph Loeb, na época responsável por seu braço televisivo, como consultores da equipe de produção. Também ficaria acertado desde o início que o desenho não seria ambientado no Universo Cinematográfico Marvel (onde são ambientados, por exemplo, os filmes dos Vingadores), e sim em seu próprio universo, totalmente independente.

A equipe de produção optaria por uma ambientação ao estilo Blade Runner, mesclando elementos ocidentais e orientais em um mesmo cenário; para isso, eles criariam a cidade de San Fransokyo, uma versão alternativa de San Francisco, na Califórnia, reconstruída após um gigantesco terremoto em 1906 por imigrantes japoneses, que a deixariam parecida com Tóquio. A escolha de San Francisco se daria principalmente por dois motivos: ela nunca havia sido usada pela Marvel em nenhum de seus filmes, e possuía elementos característicos suficientes - como os bondinhos e as casinhas coloridas conhecidas como painted ladies - para continuar sendo facilmente reconhecida mesmo após todas as modificações feitas na mistura com Tóquio. Tóqio, aliás, é onde a versão em quadrinhos de Big Hero 6 é ambientada, e mesclá-la com uma cidade norte-americana foi uma espécie de meio-termo encontrado pela produção para não modificar demais o material original.

Como de costume, a Disney criaria novos softwares especialmente para o desenho, dois deles apenas para dar mais vida a San Fransokyo: o chamado Denizen ("habitante") criaria 700 personagens genéricos, mas que se comportavam de forma totalmente independente uns dos outros, para povoar a cidade sem que os animadores precisassem construí-los um a um ou criar apenas alguns poucos e repeti-los, dando uma sensação maior de diversidade e realismo; enquanto o chamado Bonsai criaria mais de 250.000 árvores, mais uma vez com cada uma delas se comportando de forma independente, sem que todas precisassem ser feitas do zero. O principal programa criado para o desenho, porém, se chamava Hyperion, e seria usado para renderizá-lo (em uma explicação bem simplificada, fazê-lo ficar com cara de desenho ao invés de com cara de uma coisa qualquer feita no computador); o Hyperion era mais avançado que o principal programa de renderização da época, o RenderMan da Pixar, e oferecia novas possibilidades de uso de luz e sombras, como uma iluminação mais realística de objetos translúcidos, como o robô Baymax.

Baymax, aliás, seria o xodó da produção: nos quadrinhos, ele é um robô super avançado construído pelo adolescente-prodígio Hiro, programado para lutar diversas artes marciais, capaz de assumir várias formas intimidadoras, a principal delas a de um dragão humanoide, e que tem a mente do pai de Hiro; no desenho, ele é um robô superfofo inflável feito de vinil, criado pelo irmão de Hiro, Tadashi, para ajudar médicos e enfermeiras no trato diário com seus pacientes, e adaptado por Hiro, através de uma armadura de combate, para auxiliar a equipe em suas missões. Essa mudança radical partiria do próprio Hall, que queria que Baymax fosse "um robô jamais visto antes", e da artista Lisa Keene, que sugeriu que, diferentemente do robô dos quadrinhos, o Baymax do filme fosse algo que as pessoas sentissem vontade de abraçar. A opção por fazê-lo um robô inflável de vinil associado à área da saúde veio quando Hall e sua equipe visitaram o Instituto de Robótica da Universidade de Carnegie Mellon, na Pensilvânia, para tentar obter algumas ideias de como Baymax poderia ser; lá, eles foram apresentados a um projeto de um braço robótico projetado para auxiliar médicos durante cirurgias, envolto em uma camada de vinil inflado para evitar lesões caso ele se chocasse acidentalmente contra os profissionais envolvidos na cirurgia ou contra o próprio paciente.

Nos quadrinhos, a equipe Big Hero 6 foi criada em 1998 pelo roteirista Steven T. Seagle e pelo artista Duncan Rouleau, à época à frente da revista da Tropa Alfa, para estrear como coadjuvante em Alpha Flight 17. A Marvel gostaria tanto da equipe que encomendaria uma minissérie em três partes, chamada Sunfire & Big Hero 6, escrita por Scott Lobdell e desenhada por Gus Vasquez. Curiosamente, devido a um problema de cronograma, a minissérie seria lançada antes da revista que seria a estreia da equipe - com a Sunfire & Big Hero 6 1 sendo lançada em setembro de 1998, enquanto a Alpha Flight 17 só seria lançada em dezembro. A equipe faria algumas participações esporádicas em outras revistas da Marvel, principalmente do Homem-Aranha e dos X-Men, até 2008, quando protagonizaria uma segunda minissérie, dessa vez em cinco edições e chamada apenas Big Hero 6, com roteiro de Chris Claremont e arte de David Nakayama; desde então, ficaria sumida.

Nos quadrinhos, a equipe é formada pelo governo japonês, que decide criar uma equipe de super-heróis subordinada a ele, que atuaria em missões sancionadas de defesa da pátria. O líder da equipe é Kenuichio Harada, conhecido como Samurai de Prata, antigo e famoso vilão da Marvel criado em 1974 por Steve Gerber e Bob Brown, mas que, no final da década de 1990, havia se tornado um herói. Junto com o Samurai de Prata, o governo seleciona a agente secreta Aiko Miyazaki, codinome Honey Lemon, criadora da Power Purse, bolsa que, usando nanotecnologia, pode carregar muito mais objetos do que caberiam normalmente em seu interior, e Leiko Tanaka, codinome GoGo Tomago, criminosa com o poder de transformar seu corpo em uma bola explosiva de energia, que teve sua pena anulada em troca de servir na equipe. O adolescente Hiro Takachiho, prodígio da ciência e criador do robô Baymax, também é selecionado, mas recusa o convite, decidindo se envolver apenas depois que sua mãe é sequestrada pelo vilão Everwraith, uma entidade criada pela energia de todos os mortos no bombardeio de Hiroshima e Nagasaki durante a Segunda Guerra Mundial. Durante a luta contra Everwraith, a equipe recebe a ajuda de Shiro Yoshida, o mutante Solaris, ex-membro dos X-Men com o poder de voar, disparar chamas solares, imune à radiação e capaz de enxergar infravermelho, instrumental para a derrota do vilão.

Juntos, os seis seriam a primeira formação da equipe Big Hero 6, que, nos anos seguintes, deixaria de contar com Solaris e o Samurai de Prata (sendo que, após sua saída, Hiro passa a ser o líder da equipe), substituídos, respectivamente, por Leyu Yoshida, codinome Chama Solar, irmã de Solaris com os mesmos poderes, e pelo Samurai de Ébano, na verdade Kiochi Keishicho, policial de Tóquio assassinado pelo Samurai de Prata quando este ainda era um vilão, e que fez um pacto com Amatsu-Mikaboshi, deus do mal japonês, que permitiu que ele voltasse à vida preso dentro de uma versão negra da armadura do Samurai de Prata e portando uma katana demoníaca, com a missão de matá-lo, mas que, após ser salvo por ele, muda de ideia. Na minissérie de 2008, Chama Solar e o Samurai de Ébano são substituídos por Wasabi-no-Ginger, chefe de cozinha japonês de nome verdadeiro desconhecido com o poder de criar lâminas de energia com o pensamento e que usa várias facas diferentes como armas, e por Fred, adolescente norte-americano de sobrenome desconhecido, que tem o poder de se transformar em um lagarto gigante parecido com o Godzilla.

No desenho, evidentemente, a história da equipe é bastante diferente, embora seus nomes de guerra e algumas características de seus poderes tenham sido mantidas. O protagonista é Hiro Hamada (Ryan Potter), menino de 14 anos gênio da ciência, cujo maior sonho é trabalhar ao lado de seu irmão mais velho, Tadashi (Daniel Henney), no Instituto de Tecnologia de San Fransokyo, presidido pelo mundialmente famoso cientista Professor Robert Callaghan (James Cromwell). A maior invenção de Hiro são os microbôs, pequeninos robôs capazes de se combinar para criar qualquer estrutura, controlados através de uma tiara que os transmite ordens mentais do usuário; Hiro mostra os microbôs para o Professor Callaghan, que fica maravilhado e o convida para trabalhar no Instituto, mas sua alegria dura pouco: após a apresentação de Hiro, um misterioso incêndio destrói o local, vitimando Tadashi e o cientista. Deprimido, Hiro encontra consolo em Baymax (Scott Adsit), robô criado por Tadashi, que passa a ser seu melhor amigo.

Acidentalmente, Hiro e Baymax descobrem que os microbôs estão sendo produzidos em massa, e, investigando o caso, são atacados por um misterioso homem mascarado. O principal suspeito é Alistair Krei (Alan Tudyk, a essa altura já um dublador Disney recorrente de primeiro time), presidente da Krei Tech, e que está sempre mais interessado no lucro que a tecnologia pode lhe oferecer do que na diferença que ela pode fazer na vida das pessoas. Hiro e Baymax não podem enfrentar Krei e os microbôs sozinhos, porém, e ele decide recorrer aos amigos de Tadashi no Instituto, que, usando seus apelidos como codinomes e suas principais habilidades como "superpoderes", formam a equipe Big Hero 6. Além de Hiro e de Baymax, devidamente equipado com uma armadura de batalha, a equipe é formada por Honey Lemon (Génesis Rodriguez), prodígio da química armada com diversas esferas, cada uma contendo um composto químico ativado por sua quebra, de gás sonífero a adesivo instantâneo; Wasabi (Damon Wayans, Jr.), aficcionado por lasers, que usa uma armadura projetada por Hiro capaz de criar duas lâminas laser que saem de seus punhos; GoGo (Jamie Chung), viciada em adrenalina e especialista em eletromagnética, usando pequenos discos magnéticos sob os pés para deslizar como se usando patins e que podem ser arremessados como arma; e Fred (T.J. Miller), nerd, cosplayer, milionário e financiador da equipe, que usa uma fantasia de monstro capaz de dar supersaltos e cuspir fogo.

Operação Big Hero estreou em Tóquio, em 23 de outubro de 2014, e foi um grande sucesso: com orçamento de 165 milhões de dólares, rendeu 222 milhões nos Estados Unidos, e mais de 650 milhões no mundo inteiro, se tornando o filme mais bem sucedido de 2014 e o terceiro Clássico Disney mais bem sucedido, atrás de Frozen e O Rei Leão. Todas as críticas que recebeu foram extremamente positivas, principalmente em relação à aparência e personalidade de Baymax, e às relações interpessoais entre os personagens. Operação Big Hero também ganharia o Oscar de Melhor Filme de Animação, na primeira vez em que dois Clássicos Disney seguidos levariam o prêmio.

Uma sequência de Operação Big Hero está nos planos da Disney, mas ainda sem data prevista para o início da produção; o que já está em estágio avançado de produção é uma série, que estreará no canal Disney XD em janeiro de 2017. Contando com o mesmo elenco de dubladores do filme, a série mostra o dia a dia de Hiro e seus amigos enquanto estudam no Instituto, devendo lidar eventualmente com vilões que usam a ciência para cometer crimes. Diferentemente do Clássico, entretanto, a série de Operação Big Hero é feita em animação tradicional, e não em computação gráfica.

Zootopia
2016

Em 2011, Byron Howard, co-diretor de Bolt - Supercão e de Enrolados, procuraria Lasseter, e revelaria ter vontade de criar um filme ao estilo do Robin Hood da Disney, no qual todos os personagens são animais antropomórficos. Evidentemente, a Disney já havia feito dezenas de filmes com animais antropomórficos, mas, segundo Howard, Robin Hood tinha uma diferença em relação aos demais: era o único no qual o mundo parecia ter sido construído pelos animais, diferentemente de simplesmente colocar animais com características humanas vivendo em um mundo construído por humanos - como ocorre, por exemplo, em O Galinho Chicken Little. O plano de Howard era fazer um filme ambientado em nossa época atual, mas como se os animais tivessem sido a espécie inteligente dominante desde sempre, com elementos como cidades e veículos sendo adequados à sua fisiologia, e não à nossa. Lasseter gostou tanto da ideia que, segundo ele mesmo, ergueu Howard no ar como se ele fosse o pequeno Simba.

Originalmente, o projeto de Howard seria um filme de espionagem, ao estilo James Bond, protagonizado por um coelho chamado Jack Savage. Durante as reuniões da equipe criativa, porém, chegou-se à conclusão que o filme seria melhor se fosse ao estilo bud cop, os famosos filmes norte-americanos nos quais uma dupla de policiais, com características antagônicas um do outro, tem de aprender a conviver com suas diferenças enquanto soluciona algum crime complexo. O personagem principal, então, talvez por influência de Robin Hood, passaria a ser uma raposa (ou melhor, "um raposo", já que era macho), e o coelho (ou melhor, a coelha, já que decidiram que ela seria fêmea) passaria a ser sua parceira - afinal, poucas duplas são mais antagônicas na natureza que uma raposa e um coelho.

O desenho entraria em produção com essas características, mas, em novembro de 2014, sofreria mais uma mudança importantíssima: a reversão de papéis. Por alguma razão, o filme "não estava funcionando", pois, aos olhos de Howard, a raposa, devido à sua personalidade, não era um protagonista adequado para apresentar a cidade e o mistério aos espectadores, que poderiam não ser cativados pela dupla nesse caso. A solução adotada pelo diretor foi, aparentemente, a mais simples possível: a coelha passaria a ser a protagonista, e a raposa seria "rebaixada" a sua parceira. "Aparentemente" a mais simples porque uma mudança dessas significaria ter que refazer quase todo o filme a menos de um ano da data de estreia prevista - que teve de ser adiada. Mas valeu a pena.

Previsto para estrear no final de 2015, Zootopia (lançado, no Reino Unido, onde esse nome já era registrado, como Zootropolis, nome que acabaria adotado por tabela na maioria dos países da Europa, Oriente Médio e África, incluindo Portugal) acabaria estreando apenas em março de 2016, para fazer um sucesso gigantesco: com orçamento de 150 milhões de dólares, renderia mais de 340 milhões apenas nos Estados Unidos, e mais de um bilhão no mundo inteiro, se tornando o segundo Clássico Disney mais rentável de todos os tempos, atrás apenas de Frozen; até agora, ele é também o segundo filme mais bem sucedido de 2016, atrás apenas de Capitão América: Guerra Civil. A crítica também foi extremamente positiva, e, desde já, Zootopia é o favorito ao Oscar de Melhor Filme de Animação no ano que vem.

Zootopia é o nome da cidade onde o filme é ambientado. Recém-chegada a ela, vinda de uma pequena cidade do interior, a jovem Judy Hopps (Ginnifer Goodwin, a Branca de Neve de Once Upon a Time) realiza seu sonho de se tornar a primeira coelha a integrar a Força Policial de Zootopia. Para sua decepção, porém, o chefe de polícia, Bogo (Idris Elba, de Círculo de Fogo), não acredita em seu potencial, e a coloca como guarda de trânsito. Em seu primeiro dia de trabalho, ela conhece o trambiqueiro Nick Wilde (Jason Bateman, de Arrested Development), raposa que vive de pequenos golpes.

Ao ver a doninha Duke Weaselton (Alan Tudyk, de novo) cometendo um crime, Judy deixa seu posto para prendê-lo, mas o Chefe Bogo decide puni-la por insubordinação. Bem na hora em que Judy vai receber sua sentença, o Prefeito de Zootopia, o leão Leodore Lionheart (J.K. Simmons, o J. Jonah Jameson de Homem-Aranha), exige que o desaparecimento misterioso de vários habitantes da cidade seja investigado. Bogo acha que o caso não tem solução, e para punir Judy, dá a ela dois dias para solucioná-lo, ou ela será demitida. Como não conhece a cidade direito, ela acaba recorrendo à ajuda de Nick, que, relutantemente - e após uma certa chantagem - passa a ser seu parceiro na investigação.

Para que o filme fosse o mais realístico possível, a equipe de produção visitou um santuário animal no Quênia, fez repetidas visitas ao zoológico de San Diego, nos Estados Unidos, e praticamente morou dentro do Animal Kingdom, parque temático da Disney na Flórida, tudo para observar o comportamento dos animais e tomar notas sobre sua aparência e coloração. Os animadores chegaram a estudar peles e pelos de vários tipos de animais sob microscópio e com diferentes tipos de iluminação, para que a pelagem dos personagens fosse a mais real possível quando reproduzida em computação gráfica. Já para criar uma cidade que abrigasse com sucesso animais de tamanhos e formatos diferentes, foram consultados especialistas em mobilidade urbana, acostumados a fazer projetos de acessibilidade para deficientes. Ao contrário de Robin Hood, que tem crocodilos e cobras, a equipe de produção de Zootopia optaria por povoar a cidade apenas com mamíferos, ou correria o risco de a complexidade alcançar um patamar que impossibilitaria um resultado satisfatório - ainda assim, mais de 800 formas de mamíferos diferentes seriam criadas pelo Denizen para povoar a cidade de Zootopia.

Além de usar o Denizen, o Bonsai e o Hyperion, de Operação Big Hero, a equipe de Zootopia recorreria ao Nitro, criado para Detona Ralph para deixar os personagens com aspecto de videogame, mas aqui usado para controlar a forma como o pelo dos animais se comportava - até então, toda vez que se desejava um animal peludo realístico, como em Bolt, a única opção era programar os movimentos do pelo a cada cena, mas o Nitro podia fazer isso de forma automática. Todo o tempo no qual a equipe passou estudando animais na natureza e pelos no microscópio foi usado para criar o programa iGroom, que tinha como única função controlar a consistência, iluminação e formato dos pelos dos animais do filme - e que foi o principal responsável pelo realismo do pelo arrepiado de Benjamin Clawhauser (Nate Torrence), um guepardo obeso que trabalha como despachante na delegacia.

Para terminar, vale citar que Zootopia conta com a participação de Shakira no papel da gazela Gazelle, pop star do mundo animal, responsável por um dos melhores momentos do filme - e que, além de na versão original, Shakira também dubla a personagem na versão em espanhol do desenho.

Série Clássicos Disney

•Frozen
•Operação Big Hero
•Zootopia

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